Flora


Lameiro com Cravo dos Alpes Arnica montana Henrique Pereira

      O Parque Natural do Alvão insere-se muito próximo da zona de transição entre duas regiões fitoclimáticas europeias: a Eurosiberiana; e a Mediterrânica, estando assim influenciado pelo litoral húmido e o interior continental crescentemente mais seco. A este efeito junta-se a componente altitudinal das partes mais altas onde um clima de feição subalpino se faz sentir. Esta mescla é responsável pela diversidade e diferenciação da cobertura vegetal.

     Estão inventariadas e referenciadas cerca de 486 espécies de plantas, sendo 25 delas endemismos ibéricos (6,3%), 6 endemismos lusitânicos (1,5%) e 23 possuem estatuto de conservação (5,8%).

     A riqueza florística neste Parque Natural é expressa pela presença de diversas espécies de ecologia muito particular, endémicas, raras ou com estatuto de conservação e proteção elevado, tais como a açucena-brava Paradisea lusitanica, o cravo dos Alpes Arnica montana, o satirião-malhado Dactylorhiza maculata, o Teucrium salviastrum, a Genciana pneumonanthe, a Arenaria queroides, a Luzula sylvestris subsp. henriquesii ou a planta carnívora conhecida como orvalhinha Drosera rotundifolia, entre outras.

    O carvalhal autóctone insere-se nos carvalhais galaico-portugueses apresentando vestígios das comunidades climáticas da aliança Quercion robori-pyrenacae. Pela biodiversidade que encerram, a importância destes bosques, do ponto de vista botânico, é notável.

    Nas áreas de maior influência atlântica, abaixo dos 600 m de altitude, e maior acidez de solos domina o carvalho-roble ou alvarinho Quercus robur, formando associação com o castanheiro Castanea sativa, o pilriteiro Crataegus monogyna, o azevinho ou pica-folha Ilex aquifolium, o arando Vaccinium myrtillus, a gilbardeira Ruscus aculeatus e a linária Linaria triornithophora.

Ilex aquifolium Azevinho fruto Cristina Girão Vieira Linaria triornithophora Cristina Girão Vieira

    Nas encostas mais expostas viradas a sul, surgem outras companheiras de ecologia mais termófila (i.e que toleram melhor o calor), mas de influência atlântica como o sobreiro Quercus suber, o medronheiro Arbutus unedo, o loureiro Laurus nobilis ou o lentisco Phillyrea angustifolia.

    Com o aumento da altitude e da influência continental, a composição dos carvalhais altera-se, surgindo bosques mistos de carvalho-roble ou alvarinho Quercus robur e de carvalho-negral Quercus pyrenaica. Este carvalho forma novos tipos de associações, consoante a altitude, precipitação, exposição ou qualidade de solos, nomeadamente com erva-molar Holcus mollis, arenária Arenaria montana, búgula Ajuga pyramidalis subsp. meonantha, giesta-piorneira Genista florida, cerdeira Prunus avium ou com Omphalodes nitida, violeta Viola riviniana, erva-pombinha Aquilegia vulgaris subsp. dichroa e anémona-dos-bosques Anemone trifolia subsp. albida. Evidenciando uma forte influência mediterrânica salientam-se bolsas em que Q. pyrenaica é acompanhado por tojo-gadanho Genista falcata, rosmaninho Lavandula stoechas subsp. pedunculata e trovisco Daphne gnidium, numa situação marginal.
 

Quercus pyrenaica Carvalho-negral Cristina Girão Vieira 257-180 pxl Quercus robur Carvalho-roble Cristina Girão Vieira 257-180 pxl

    Os vidoeiros Betula alba testemunham a época da glaciação da Península Ibérica estando hoje ou representados em associação com os carvalhos ou acantonados em pequenos bosques vestigiais (vidoais), acompanhado por Saxifraga spathularis, Crepis lampsanoides, Holcus mollis e urze-branca Erica arborea.

    A regressão das comunidades climácicas é bastante evidente, resultando a maior parte das formações arbustivas de etapas diversas da degradação dos carvalhais e vidoais. Assumem, contudo, grande importância para as comunidades rurais e sobretudo para certo tipo de fauna que encontra nela o seu habitat.

    Os giestais dominados por giesteira-das-vassouras Cytisus striatus e Genista florida e com urze-branca Erica arborea constituem a primeira etapa de degradação dos carvalhais dos andares supra e mesomediterrânico, colino e montano. Nas orlas (ecótonos) dos carvalhais de maior altitude surgem matorrais dominados por urze-branca Erica arborea e Genista falcata.

    Mais degradados e alterados pela ação humana e em zonas de menor altitude e de forte influência atlântica encontram-se matos de composição e associações diferentes em que se destacam os tojais de tojo-molar Ulex minor e tojo-arnal U. europaeus, podendo aparecer com alguma expressão a torga Calluna vulgaris e matos baixos de urzais, carquejais e sargaçais com queiroga Erica umbellata, carqueja Pterospartum tridentatum e sargaço Halimium lasianthum subsp. alyssoides, nas zonas de transição entre as regiões eurosoberiana e a mediterrânica.

    Nos matos altos, mas a grande altitude em solos bem drenados, com grande acumulação de matéria orgânica, podemos encontrar urzais de urgueira Erica australis e E. umbellata. Ainda nestes andares, em zonas de forte influência atlântica em depressões ou fundo de vales com fraca drenagem, surgem urzais higrófilos (i. e. que gostam de água) de urze-peluda Erica tetralix, giesteira Genista micrantha, G. anglica, junco Juncus squarrosus, Luzula campestris e tojo-molar Ulex minor.

Erica tetralix Margariça Paulo Barros Narcissus asturiensis - Paulo Barros
    Nos cursos de água, bem como nas suas beiradas húmidas adjacentes, levadas de rega tradicionais ou taludes encharcados e ensombrados, desenvolve-se uma associação vegetal típica, i.e. a vegetação ribeirinha ou ripícola, com importante função a nível da estabilização das margens, segurando os solos e evitando a erosão.          As espécies que a caracterizam são, entre outras, o amieiro Alnus glutinosa, o sanguinho Frangula alnus, freixo-de-folha-estreita Fraxinus angustifolia, salgueiro Salix spp., vidoeiro Betula alba, urze-branca Erica arborea, feto-real Osmunda regalis ou feto-pente Blechnum spicant, para além de muitas hepáticas e musgos de enorme beleza.

Osmunda regalis Feto Cristina Girão Vieira Erica arborea Urze-branca flor Cristina Girão Vieira

     Os prados de lima abrem-se em extensas clareiras entre os carvalhais oferecendo um quadro paisagístico, biogenético e científico de grande valor pela presença de um conjunto rico e diversificado em espécies, algumas raras e ameaçadas.

     A preservação das formas e práticas agrícolas tradicionais, nomeadamente a utilização dos lameiros pelo gado bovino maronês e o corte dos fenos, proporcionam um certo equilíbrio nas sucessões vegetais favorecendo as condições ecológicas para o aparecimento destas e de outras espécies de extrema importância botânica. Torna-se assim importante apoiar estas formas de exploração da terra por parte das comunidades rurais de montanha.

    As formações arbóreas são caracterizadas pela presença dos carvalhais galaico-portugueses de carvalho-negral Quercus pyrenaica e carvalho-roble Quercus robur, vidoais e sobreirais Quercus suber. Os matagais são dominados por urzes, carquejas Pterospartum tridentatum e sargaços.

    Floristicamente, encontramos um conjunto importante de espécies tanto em biótopos, com influência humana, como naturais ou seminaturais, tais como o azevinho Ilex aquifolium, o arando Vaccinium myrtillus, a Ajuga pyramidalis subsp. meonantha, a anémona-dos-bosques Anemone trifolia subsp. albida ou a aquilégia Aquilegia vulgaris subsp. dichroa.

    A intervenção humana neste Parque tem determinado a manutenção e o equilíbrio entre as diferentes formas de vida selvagem. Esta atitude tem contribuído para a diversidade biológica ao serem criadas novas unidades ecológicas (biótopos), campos agrícolas, lameiros, sebes, etc., que se associam aos biótopos naturais.

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