História/Cultura

 

PNAl moinho de água - Galegos


Paisagem

    O Parque Natural do Alvão caracteriza-se pela sua altitude, oceanidade e mediterraneidade.

    O seu clima de montanha oroatlântica é influenciado pelas massas húmidas atlânticas.

    A variação altimétrica do Parque, a morfologia do relevo e a variação do coberto vegetal com a altitude, criam condições propícias ao aparecimento de microclimas. Esta diversidade microclimática reflete-se, também, na diversidade das espécies e, consequentemente, na paisagem.

    A paisagem do Parque é constituída por ecossistemas de altitude, predominado os agrossistemas associados a pequenos aglomerados. É, pois, uma paisagem fortemente humanizada.

    Ao longo dos tempos, as comunidades humanas que aí se fixaram contribuíram para a sua diversidade, de forma equilibrada e em harmonia com os ritmos da natureza, desenhando a Paisagem Cultural. Assim, as principais áreas agrícolas ocorrem associadas aos pequenos aglomerados populacionais.

    Em toda a área do Parque predominam os matos baixos e afloramentos rochosos associados às áreas de baldio onde, desde os anos 40 do séc. XX, a floresta de pinheiro tem vindo a marcar presença.

    Com menor representatividade e nas periferias dos povoados aparecem áreas florestadas com folhosas (carvalhais) e as áreas de lameiros.

    Observa-se ainda a presença de zonas de matos altos, autóctones.

    As condições, simultaneamente atlânticas e mediterrânicas do nosso País, resultam no facto de, nesta Área Protegida, predominarem os carvalhos (Quercus robur - carvalho-roble ou alvarinho e Q. pyrenaica - carvalho-negral), mas onde também é possível encontrar os sobreiros (Quercus suber), que também são um carvalho.

 

Atividades

PNAl - vacas maronesas PNAl - Cabra bravia

    As atividades humanas existentes na área do Parque Natural assentam, fundamentalmente, no setor agrário. Sendo uma região de montanha, assume lugar de destaque a produção pecuária de que são ex-libris a vaca maronesa e a cabra bravia.

    Alimentando-se respetivamente dos lameiros (prados naturais) e das ervas e arbustos que abundam nos baldios (terrenos comunitários), contribuem de forma muito significativa para a formação do rendimento de agricultores e pastores, quer pela força de trabalho que fornecem, quer pelos excelentes vitelos e cabritos que produzem, permitindo igualmente a manutenção da paisagem e da biodiversidade locais.

    As aldeias apresentam-se de forma concentrada, sobretudo nas zonas mais montanhosas, existindo junto delas as áreas de agricultura mais produtiva. Campos onde a batata, o milho e o centeio se produzem numa rotação bienal, que permite a conservação e manutenção dos solos e a produção natural e equilibrada de alimentos. Nas zonas mais baixas esta rotação complementa-se com a vinha, o olival e as árvores de fruto, naquilo que se denomina de policultura atlântica. Enquanto o milho e o centeio serviam para fazer o pão, a palha de centeio representou, durante séculos, o recurso utilizado para colmar as casas.

    A autosuficiência nestas paragens isoladas passava igualmente pela produção de linho que fazia enxovais e vestia as gentes, existindo ainda tecedeiras que o transformam em peças de "Natureza". Dos baldios, que alimentam as cabras, vêm igualmente os matos (com predominância para as urzes, os tojos e as carquejas) que, servindo de "camas" para o gado, irão produzir o estrume, que dará fertilidade aos campos.

    Nas zonas mais húmidas e até alagadas, próximo de levadas e linhas de água, desenvolvem-se os lameiros; pastagens naturais utilizadas pelas vacas maronesas durante cerca de dez meses por ano, de onde só saem para o baldio, para que o feno cresça. Este servirá para a sua alimentação, quando o gelo e as neves invernais não permitirem a sua saída.

    A sabedoria humana, desenvolvida ao longo de séculos em terras de climas agrestes e rigorosos, incrementa a rega de lima, que permite lançar de modo permanente sobre o lameiro, uma fina película de água sempre em movimento, evitando assim que os gelos destruam a pastagem e comprometam a produção de erva na época estival.

    Mas estas paisagens diversificadas de montanha não ficariam completas sem as bouças e as florestas. Nas primeiras, que são de particulares, encontramos o carvalho-negral Quercus pyrenaica e o vidoeiro Betula alba, habituados aos rigores do tempo e à altitude, enquanto nas zonas mais baixas e amenas despontam o carvalho-roble ou alvarinho Quercus robur, o freixo Fraxinus angustifolia, o amieiro Alnus glutinosa, o salgueiro Salix spp e aveleira-brava Coryllus avellan). Representam um recurso dos locais, para lenhas e madeiras de construção.

    Nos vales mais encaixados, ensolarados e virados a sul, de forte pendor mediterrânico surgem sobreiros (Quercus suber) e medronheiros (Arbutus unedo) . E um pouco por todo o território as florestas de pinheiros, que são fonte de rendimento comunitário das populações, quer pela venda das madeiras quer pela exploração das resinas.

 

Etnografia

PNAl - tecedeira (linho) PNAlvão - toalha de linho 257-180 pxl

    Fruto da milenar interação das populações humanas sobre o território, neste parque natural existe um património etnográfico, rico e diversificado, associado ao estilo de vida agrossilvo-pastoril da economia de montanha.

    O isolamento e árduo trabalho, característicos destas comunidades de montanha, levaram ao desenvolvimento de um conjunto de elementos que marcam e caracterizam o seu patrimonio cultural.

    Como exemplo das artes tradicionais, mais representativas, temos a cestaria em madeira de castanheiro, os socos (em madeira de amieiro), os artefactos de lã, as cobertas, as passadeiras de farrapo, os chapéus de palha (a partir do centeio) e o linho.

    As roupas do povo faziam-se exclusivamente a partir das matérias-primas locais. Do junco faziam-se as croças, os coruchos e as perneiras, peças de vestuário fundamentais para pastores, que assim se protegiam do frio e da chuva nos rigorosos Invernos.

    O linho foi, até há algumas décadas, a principal fibra utilizada no vestuário e na roupa de casa. Atualmente, mantém-se a prática de tecer as toalhas com frases e desenhos ripados em algodão e as célebres colchas Coroa de Rei, tão procuradas como produto artesanal local.

    Atualmente, os ofícios tradicionais estão em declínio ou já desapareceram totalmente. Os mais conhecidos eram os ferreiros, almocreves, ferradores, tamanqueiros, carpinteiros, pedreiros, tecedeiras, entre outros.


Património construído

PNAl - casas

    No Parque Natural do Alvão, o património construído é, indiscutivelmente, de elevado valor, quer pela riqueza das suas formas quer pelo seu estado de preservação.

    Aqui, onde a mão humana moldou a paisagem, todo o tipo de construções estão estreitamente ligadas aos materiais da região e às necessidades da vida rural. São disso exemplo as habitações, palheiros, espigueiros, capelas, moinhos, azenhas, muros e aquedutos, espalhados um pouco por todo o Parque.

    Salientam-se as aldeias de Ermelo, Lamas de Olo e Arnal, onde se pode encontrar, ainda bem conservados, pequenos núcleos representativos das diferentes tipologias de construção do Alvão.

    A povoação de Ermelo, com mais de mil anos de existência apresenta inúmeros exemplos de arquitetura rural típica do Alvão. No geral, as casas são ainda de paredes de xisto, à vista, e cobertas com lousa, tudo isto enquadrado no arvoredo e nos campos de cultivo. São dignos ainda de nota, o pelourinho (símbolo de poder municipal, uma vez que esta povoação já foi sede de concelho), os lagares de vara, a via sacra de cruzes graníticas, os espigueiros, as levadas de água e a igreja que, apesar de algo adulterada no interior, revela ainda a importância de outrora na torre e no adro. Refira-se, como curiosidade, que este povoado teve o seu primeiro foral em 1196.

    A povoação de Lamas de Olo conserva ainda casas vetustas tradicionais, com telhados de duas águas, cobertas com colmo, amparado por duas fiadas de granito. Realça-se ainda a existência de alguns canastros longilíneos interessantes e de moinhos, com particular destaque para o moinho da Cruz, não só pela sua localização topográfica invulgar (no topo de colina e não no vale), mas também pelo seu aqueduto pitoresco.

    O Caos granítico das Muas / Amal e a aldeia de Arnal são zonas de beleza áspera e serrana que se fica a dever a certo tipo de substrato geológico granítico. No alto da aldeia, junto à penedia, surge a casa recuperada pelo administração do Parque Natural do Alvão, na sua traça tradicional e que hoje funciona como Núcleo de Técnicas Tradicionais.

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